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Desencarne de um Morador de Rua

Morador de Rua

De acordo com a definição apresentada, uma das características do

fenômeno da população em situação de rua é a de que ela tem o “preconceito como marca do grau de dignidade e valor moral”.

Desencarne Morador De Rua

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Porém, acredito que uso do termo estigma, como desenvolvido por Goffman(2008), em detrimento de preconceito, seja mais adequado ao caso das pessoas em situação de rua.

Visto que, ao analisar a definição de preconceito, temos que ele é:

uma atitude cultural positiva ou negativa dirigida a membros de um grupo ou categoria social.

Como uma atitude, combina crenças e juízos de valor com predisposições emocionais positivas ou negativas.

Tecnicamente, por exemplo, qualquer preconceito de base racial constitui racismo, assim como qualquer preconceito baseado no sexo é sexismo, como qualquer preconceito baseado na etnia é etnicismo.

Isso significa que preconceitos dirigidos contra homens é sexismo, e que preconceitos dirigidos por negros contra brancos é racismo. (JHONSON, 1995. p.180).

(Grifos nosso) Tomando como base esta definição, identificam-se alguns pontos do conceito de preconceito:

que o preconceito é uma atitude, enquanto tal só existe na ação, na discriminação;

o mesmo preconceito pode se manifestar sobre subalternos e opressores;

e também é usado para negativar ou positivar pessoas ou grupos, não sendo apenas um recurso usado para diminuir.

E muitas vezes o preconceito se manifesta de forma ambivalente, onde a degradação e positivação ocorrem simultaneamente.

Como exemplo, em sociedades que negros sofrem preconceito de raça, são

atribuídas características negativas, por um lado, que associam o sujeito negro à baixa inteligência e à natureza, e características “positivas”, por outro, nas quais ele tem ótimo desempenho físico e aptidão sexual.

São essas duas formas juntas que compõe o imaginário estereotipado sobre o negro, é nesse duplo movimento que o imaginário social e a identidade social do negro são construídos:

na dinâmica ambivalente que o estereótipo carrega (Bhabha, 2005).

A definição e uso de preconceito, nos termos descritos, é abrangente e ambivalente.

Um mesmo estereótipo/preconceito pode negativar e positivar ao mesmo tempo.

5 Goffman diz que quando as marcas pelas quais as pessoas passam a ser identificadas socialmente são negativas, ali está o estigma; e que, apesar da multiplicidade de formas que o estigma passa a ser sobreposto aos sujeitos

– abominações do corpo, culpas de caráter individual, tribais de raça, nação e religião

– em todos esses casos encontra-se as mesmas características sociológicas:

um indivíduo que poderia ter sido facilmente recebido na relação social quotidiana possui um traço que pode-se impor à atenção e afastar aqueles que ele encontra, destruindo a possibilidade de atenção para os outros atributos seus.

Ou seja: não importa o tipo ou de onde ele vem, o estigma é radical.

Produz uma quebra na relação social entre os portadores de estigmas e as outras pessoas.

Pois, as expectativas que os estigmas indicam são tidas como certas e reduzem a identidade do estigmatizado à marca:

essa condição suprime seus outros atributos, outras qualidades, impossibilitando que ele se mostre algo além do que sua marca indica.

Retomando o exemplo do estereótipo associado ao negro como um estigma, não seria possível o reconhecimento ou valorização de um outro atributo seu

– mesmo que, ao fim e ao cabo, esse lado “positivo” seja igualmente preconceituoso/discriminatório

– como o da aptidão sexual.

Os dois conceitos a princípio são próximos.

Assim como o estigma, o preconceito também é socialmente construído e baseado em expectativas vindas de prenoções, tem consequências de segregação, degrada um sujeito e valoriza o seu oposto.

Contudo, ele não tem a expressão radical que o estigma condensa: ao estigmatizado não existe espaço para dúvida, não existe espaço para “possibilidade de” ou para a espera de que se prove o contrário

– por mais que seus portadores desenvolvam táticas para superar tal condição.

Assim sendo, os dois termos são possíveis de uso para esse tema; contudo, a ideia de estigma me parece ser muito mais próxima da experiência das pessoas afetadas pela alcunha de “morador de rua” do que a ideia de preconceito:

O estigma tem potencial analítico que preconceito não tem.

O estigma induz imediatamente a reação, negativa e negativadora, tão logo que se faz presente.

Ao observar as pessoas em situação de rua em “interação” nos espaços públicos, conversar com elas, ler sobre elas e a questão do descaso, não conseguia 6 associar a ideia “simplista” de preconceito a essa condição:

precisava de outro termo mais condizente.

Quando a ambivalência do termo preconceito fica pelo caminho, sobra a face crua e negativa dessa noção que podemos tomar como estigma

– que indica a profunda negatividade de ser marcado, que impregna praticamente todas as esferas da experiência de quem a tem.

Não aceitar a ambivalência, está condizente com mais um propósito que pode ser ilustrado do seguinte modo:

o lado negativo da situação de rua é fácil de identificar, mas e o positivo?

Seria a liberdade, o tempo, falta de compromissos, nãotrabalho?

Ao encarar a situação de rua como estigma, como marca que indica um

mau radical em si, sem rodeios, evitamos também a possibilidade de romantizar (no sentido pobre do termo) esta condição, atribuindo a ela a ideia de que “tem um lado bom, equivalente e compensatório”.

Estigma e o estigmatizado.

Ao surgimento e desenvolvimento dessa noção Goffman atribui em primeiro lugar aos gregos, que criaram o termo para se referir aos

portadores de sinais corporais que eram feitos a ferro e fogo, como em gado

para contagem, que evidenciavam alguma coisa de extraordinário ou mau sobre a índole moral de quem tinha sobre si essa mácula, servia como um chamariz sinalizando que ali está uma “pessoa marcada, ritualmente poluída, que deveria ser evitada, especialmente em lugares públicos” (ibid p.11).

Após os gregos, a noção foi adicionada de um novo elemento na Era Cristã ao termo, onde passasse a ter dois sentidos:

um no qual estigma representa sinal no corpo de graça divina e outro, sendo uma alusão médica ao primeiro, percebe-se os sinais no corpo como distúrbios físicos.

Contudo, ao tempo em que Goffman escrevia, disse ele, o termo era usado amplamente associado à própria desgraça mais do que às marcas corporais.

Ou seja, o estigma no séc. XX está mais próximo das significações socais relacionadas à degradação, às marcas simbólicas, que antes às marcas físicas objetivamente, sendo tanto as marcas como as desgraças variáveis de acordo com o tempo e localidade.

Para conceituar estigma, Goffman parte do princípio de que a sociedade fornece uma série de normas de categorização específicas para os sujeitos e

espaços sociais, 7 criamos uma série de identidades e preconcepções sobre os sujeitos e “baseando-nos nessas preconcepções, nós as transformamos em expectativas normativas, em exigências apresentadas de modo rigoroso”

Essas preconcepções são percebidas socialmente através de marcas, elementos de significação,

que alocam os sujeitos em determinadas posições que aludem a padrões de comportamento e previsão de ação.

Quando tais marcas são negativas, são percebidas como estigmas, podendo ser percebidas e estudadas sociologicamente nos “’contatos mistos’

– os momentos em que os estigmatizados e os normais estão na mesma ‘situação social’, ou seja,

na presença física imediata um do outro.

O estigma cria identificações, se consolida na relação entre a identidade social virtual e a identidade social real.

No primeiro caso, os indivíduos respondem e virtualmente correspondem

– pelas já mencionadas

– as expectativas normativas, através de exigências apresentadas de modo rigoroso; o segundo caso é relacionado aos atributos que o individuo, na realidade, tem.

Atributos estes que estão postos em relação a uma certa identidade/modo de ser dominante, identificado aqui como o sujeito normal

– O Sujeito.

O ponto é o de que a identidade social virtual se antepõe a possibilidade de que existam divergências

quanto a identidade social real, resumindo o sujeito à representação virtual que tem perante a sociedade.

Essa relação se estabelece numa dinâmica perversa na qual:

deixamos de considerá-lo [o portador do estigma] como uma criatura comum e total, reduzindo-o a uma pessoa estragada e diminuída.

Tal característica é um estigma, especialmente quando o seu efeito de descrédito é muito grande e constitui

uma discrepância específica entre a identidade virtual e a identidade real.

O termo estigma, portanto, será usado em referência a um atributo profundamente depreciativo,

mas o que é preciso, na realidade, é uma linguagem de relações e não de atributos.

Um atributo que estigmatiza alguém pode confirmar a normalidade de outrem, portanto ele não é, em si mesmo,

nem honroso nem deshonroso.

A identidade social do estigmatizado é, via de regra, negativa e degradada com a função de diminuir

valorativamente sujeitos frente ao sujeito normal;

confirmando sua normalidade, mesmo que as características que são atribuídas como degradantes não façam sentido em si mesmas.

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